No dia em que o Blemias perdeu a sombra, o caderno que estava sobre o estirador que faz assessoria à criação por computador foi então guardando as manchas que instintivamente lhe eram distribuídas pelo pincel chinês, ajudado pelo colorido de umas velhas aguarelas.

O Blemias foi aos poucos recuperando o perfil perdido, dissolvido nos milhares de borrões que se foram dilatando, numa aproximação a qualquer um dos gestos tantas vezes experimentados.

Da dança resultante da acção do pincel sobre o branco do papel, na procura do recorte exacto e na fusão orgânica das manchas, saíram, analogamente, os perfis aproximados às malhas que enformaram outras criaturas, tornadas outrora visíveis nos registos a sanguínea.

Depois de reconhecidas as aparências, facilmente as sombras encetaram os diálogos que agora descobrimos e que estão a levar as criaturas por caminhos nunca por aqui previstos.

Nasceram assim as dezenas de aguarelas, em formato 24X32cm, que acompanham as sombras, que agora se vão definindo, juntas à forma de outros personagens.

Jorge Castanho